Palavras Limpas

Porque a poesia pertence aos que precisam dela

30 julho 2006

Grand Finale

E agora, Poeta?
O que fará você
Sem o papel, sem a caneta
Sem uma idéia na cabeça
Sem nenhuma palavra
Que possa rimar?

E agora, meu caro Poeta?
Sem uma inspiração
Sem uma boa lembrança
Que já não tenha virado verso
Você sozinho...
Será momento de, outra vez,
Amar?

Mas quando é que você amou,
Humilde Poeta?
De todas as pessoas
De todas as estórias
Será que delas alguma merece
A definição "amor"?!
Pois, se acabou
Foi momento, foi idéia
Tal qual as que você tem
Foi fugaz
Passou!

Poeta, será o seu fim?
O que fará você do seu dom?
Gastou tanta rima para versos
Que ficaram no tempo,
E esqueceu-se de que há muita gente
Sem a casa, o remédio, o pão
Não! Meu amigo Poeta...
Você perdeu

Você acreditou no amor
Mas saiba você
Que a única palavra que será eterna
Merecedora de um verso seu
É a dor.

O resto...

... é pó.

28 julho 2006

Retrato Pra

Eu poderia escolher
Ser uma pedra
Ou ser um homem,
Mas escolhi ser homem

Sendo homem
Eu poderia escolher
Ser o que quiser
Mas não sei porque
Fui dar-me poeta
Que é quase o homem
Em estado de pedra

Sou homem
Sou pedra

Sou homem
Dos que andam
Dos que trabalham
Dos que dormem
Dos que comem
Dos que morrem

Sou pedra
Das que sonham
Das que cantam
Das que fenecem
Das que surtam
Das que se remoem

Sou um ser
Que não sou
Nem o que escolhi
Nem o que recusei;
Talvez eu seja
Apenas o que me restou:
As palavras.

Palavras não escritas
De vozes não ouvidas
De poesias não lidas
De crônicas não publicadas

Sou palavra
Dessas não ditas,
Dessas que buscam a compreensão

Sou a palavra
Que está guardada
Dentro dos homens
E no meio das pedras

Sou a palavra do sonho
Sou a palavra do olhar
Sou a palavra do silêncio
Sou a palavra da despedida

Uma palavra não encontrada
Uma palavra não revelada
Uma palavra não traduzida

Sou a palavra calada
De um homem resignado,
De uma pedra cheia de feridas

Sou apenas
Palavra
Palavra
Palavra,
Palavra sem definição
A que nenhum poema
Jamais
Estendeu a mão.

27 julho 2006

Às Flores

Eu nunca dei uma flor
Para a minha namorada
Porque eu amo a minha namorada!
E amo as flores também.

25 julho 2006

Quem Diria!

As folhas da mangueira caem no chão
E sujam a cidade.

Quem diria!
O concreto fez da natureza
Lixo.



**Para Eloísa

19 julho 2006

Os Lúcidos

Quem saiu às ruas
Admirou os carros

Quem ficou em casa
Ligou a TV

Quem caminhava
Leu os out-doors

Quem ouvia o rádio
Escutou o novo mainstream

Quem olhou para o céu
Não viu a lua,

E nem procurou as estrelas.

Desesperança

Por que de amor tanto falo
Me interrogando se amada serei?
Não é em vão que não me calo
Pois do amor eu nada sei

De todas as tristes ilusões
Da minha vida que passou
Parece eu ter tido infinitos corações
Contudo sei
Que não vivi de fato
O amor

Sozinha sigo
Ainda que desesperançada
O caminho que os olhos já não vêem
Esperando o dia porém
De ser docemente amada

E se esse dia muito tardar
O meu destino é continuar aqui
Vivendo o amor que eu nunca vivi;
Esperando a morte
Tão certa quanto à minha
Solidão...

16 julho 2006

Faça

Faça por você
Siga o seu coração
Não pense assim:
"Que o amor é uma ilusão,
Que a paixão não é pra mim."
Mesmo quando chora
O seu pranto pode ser feliz
Não desista agora
Pois a estrada não chegou ao sim

Caminhar na praia
(vento litoral)
Bem querer a vida e esquecer o mal.
Uma vida nova
Não merece a velha dor
Eis a hora de viver um novo amor
Faça assim:

Faça por você
Faça a sua vida como sempre quis
Faça uma canção
Faça o seu coração bater feliz.


**Esta é a letra de uma música que fiz com meu amigo sul-matogrossense de raiz, Alexy Araújo. Pela limitação, por enquanto vai só a letra... um dia eu exponho a partitura. Ficou legal!

15 julho 2006

(Sem título)

Óia Meu Bem
Eu queria te mandar notícias minhas
Fiz um verso e uma canção
Mas o pobrema
É que não dá pra pôr na televisão.

Essa gente orgulhosa
Que só pensa no dinheiro
Não sabe que esta distância me causa dor
Já se esqueceram o que é liberdade
Eles já não sabem o que é o amor.

E como eu não tenho telefone
E nem computador
A minha fé é pra mode essa gente mudar
Porque assim não há mais de ter
Gente muda e sofrida
Que nem eu

Mude mídia
Eu já cansei de ser mudo
A minha amada espera por notícias
Ela quer escutar a canção que eu fiz.

E só pra acabar comigo
O empresário me prometeu
Que meu sonho se realizaria
Só se eu mudasse minha cantoria;
Mas isso é um desaforo
Eu me recuso a fazer papel de bobo
E esquecer desse meu legítimo sertão
Não mudo de nome
Se nasci José
Não morro João.

Mas escuta, meu Coração
Que tão longe
Mora de mim:
Me perdoe pelo meu fracasso
Mas não fui eu que quis assim
Essa gente confundiu tudo
Eu só quero dizer que te amo
Mas eles me deixaram mudo

E agora, não mais procê,
Mas para a lua
Vou tocar sozinho
A canção que é só sua.
Queria poder ser mais ligeiro
Com o presente que fiz procê
Mas só que por enquanto não dá
Porque o verdadeiro sertão
Está muito longe
Dessa televisão...

Mora em outro lugar.




**Escrevi essas palavras em 07 de Maio de 2003, e encontrei perdida no meu armário. Na verdade escrevi com o intuito de colocar uma melodia, e espero que alguém o faça... com ou sem suin-

14 julho 2006

Um Caminho

Pelas estradas
Que não levam a nada
Andei

Andei pelas estradas
E elas não me levaram
A nada

Andei pelo nada
Percorrendo as estradas
Crassas
Até não parar mais!

Até me esgotar!

Até me perder!

Até o circulo das voltas
Se acabarem no infinito

E só parei
De andar pelas estradas
Que não levam a nada
Quando enfim
Me encontrei

Assim tão de repente,
Apenas num segundo

Apenas num olhar...

13 julho 2006

Ao Vento

Sou apenas uma vela
Nesta triste caminhada
Que, cansada de sofrer,
Do barco se desgarra

Vou longe,
Além dos mares e das marés;
Vôo longe,
Até onde o vento soprar
Ou até onde o meu deus quiser

Não tenho mapa
Não tenho destino
Procuro apenas o que o mar
Levou de mim

A minha caminhada é só
Inútil enfim
Pois a cada encontro com o acaso
Me desfaço de pouco em pouco

Sei que daqui pra frente
Não existe nenhum porto
Onde eu possa finalmente
Me descansar

A minha viagem é um mosaico
De erros e incertezas
Que há muito estou
A colecionar

E, errando assim,
Nos ventos deste mar
Sou apenas uma vela (cansada)
Que,
Ao fim desta triste caminhada
É solidão

(ou quase nada).

10 julho 2006

Soneto de Todo Dia

É sempre a mesma triste poesia
Que todo dia esta’lma minha canta
Pois vive a infelicidade tanta
De em vão sonhar o amor em demasia

Quando a aurora se desponta no céu
Meu peito chora antes o teu sofrer
Sobre os olhos cai a bruma e o véu
Saudando a ausência tal do Bem Querer

Não há felicidade em minha vida
Se, do grande amor que me faz feliz,
O acaso dele fez-se despedida

Seguirei assim como a vida quis
Entoando sempre a mesma canção;
Talvez eu a reencontre... talvez não.

08 julho 2006

Sigo sempre
Pelos caminhos
Que não têm volta

Mas sempre volto
Envolto
De saudade

06 julho 2006

Você & Eu

Colegas
Conhecidos
Amigos
Namorados
Casados
Amantes...

Não somos um plural!

Somos Um.

Sorria
Enquanto é dia

Porque quando a noite chegar
Eu só quero os beijos
Seus

05 julho 2006

Iaiá

É muito mais do que minha menina;
Universo de infinita beleza
É a inspiração de toda a Natureza
E a melodia para qualquer rima

Quando sorri, traz pra si todo o encanto
Pois seu sorriso é flor de bem-me-quer
Que transforma a tristeza em amor tanto
E a solidão em beijo de mulher

Em seus olhos foi que Deus inventou
Dos poetas o mistério profundo
Quando em vão tentam traduzir o amor

Nela há toda a ternura deste mundo
E a felicidade de estar em paz;
Iaiá é o Amor pra sempre, e demais.

03 julho 2006

Florescer

Em nossa carruagem
Negra como o céu
De uma noite
Que jamais teria fim...
O teu corpo envolto ao meu,
Num suspirar profundo de desejo,
Pedia o doce toque de veludo
Que morava em minhas mãos

Mergulhados num só pensamento,
A razão dos extensos beijos
Se fazia mais real...
Pois fora dali nada impediria
As nossas trocas de carícias
De uma noite de amor nupcial

Ó pálida lembrança!
Do teu seio quase oculto...
Dos meus olhos abaixo dos teus...
Implicando a cada pulsar
A nossa fuga,
Que se fazia pelo prazer

Nossos trapos,
Entrelaçados entre nossos pés,
Já não mais escondiam
O corpo que ora era meu
E ora era teu...
Abraçados num fervor incandescente
A chama do teu desejo
Só pedia a água
Da minha boca

E então, de uma vontade
Além da flor da pele,
Fiz o tempo do meu viver
Parar.
Ora tendo-te perto,
Ora tendo-te distante;
O teu sussurro em meu ouvido
Era a mais bela canção
Que, naquela noite,
Se fez soar...

O teu corpo forte no meu,
A tua marca de batom
Destruída pelos meus lábios;
Transformaram-se em vestígios
Que todas as noites
Trazem-me saudades

Aquela noite que sobrevive
Passando como um filme
Num arrepiar de desejo meu,
Jamais morrerá...
O meu coração jamais se esquece
Daquela noite que muito durou,
Daquela noite que, rapidamente,
Já era dia...
Naquela noite, enfim,
Entre a nudez do teu corpo com o meu,
O nosso amor
Florescia...


**Para Cintia

A Epopéia de um Sopro

A Epopéia de um Sopro é um pequeno livro contendo 10 poesias que eu escrevi para minha colega de faculdade, a talentosa flautista Marcela Zanette - a Marcelinha.

Abaixo segue os poemas.

I

Tu encheste o ar de som
E agora por onde passa
A brisa leva um pouco de ti

Cada nota soada
Foi como um sopro infinito;
Fizeram-se as ondas.

E agora todo o mar
É melodia criada
Pelos lábios teus.

II

E foi
Com uma flauta doce
Que se fez doce
A água salgada
Deste mar.

Sopro de Borboleta

Quando tu assopras
Um vendaval em tom maior
Se inicia
E avassala o meu peito.

O que será de mim?

Ao fim
Do outro lado do mundo
Um furacão de som
Devasta o Japão.

Tu assopras sempre assim?

IV

O vento soprou,
A pipa subiu,

U
I
B
U
S

E foi lá para o alto
Ouvir a canção do flautista

Até que a linha arrebentou
E a pipa foi contar para os deuses
As coisas bonitas
Que há aqui na Terra.

V

Quem fica no porto
Chora
E vê o barco
Se esvair
Na tesa linha do horizonte.

Quem vai no barco
Vê a praia distante.
Não chora,
Aprecia somente
O sopro que vem de lá
A anunciar as canções
Dos que sabem o que é saudade.

02 julho 2006

VI

O silêncio se oculta
Antes e depois dos poemas
Antes e depois dos livros
Antes e depois da vida.
No segundo que precede
O beijo de despedida.
Entre as notas musicais.

Silêncio:
Retrato da ausência,
Grito da solidão.

É triste!

Feliz
É o silêncio do breque

Do samba.

O Grande Retorno do Mi Bemol

A roda-gigante
Gira em círculos.

A ciranda
Gira em círculos.

O carrossel
Gira em círculos.

Os escravos de Jó
Giram em círculos.

Quem é que nunca sonhou
Em dar um giro de 360º
No balanço do parquinho?!

Enfim,
Isso prova que a vida,
Eterna brincadeira,
Também gira em círculos.

O Mi bemol retornará...

Um Beijo em Mi Bemol

Era uma vez...
Um gole-de-ar solitário
Que a menina tomou
E o transformou em som,
Um Mi bemol.

O Mi bemol vôou
Junto aos pássaros a cantar belezas
Fazendo duo com os bem-te-vis,
Cantando na orquestra dos sapos de Madagascar.
Entrou num concerto na Hungria
Depois de passar
Pelo assobio do último vietcongue.
Andou e andou mundo afora
E ninguém sabe onde está
O Mi bemol.

E pode ser que este Mi bemol
Ex-gole-de-ar solitário
Volte um dia
Aos lábios da menina.

Aí, quem sabe,
Outros poetas poderão dizer
De um tal Mi bemol
Que rodou o mundo
E voltou à boca de sua dona
Para que ela, assim
O transformasse
Em um doce beijo de Mi bemol.

IX

Se não for me prender
Na cela do seu coração
Prenda-me então
Na cela do seu nome;
Que assim, pelo menos,
Eu ficarei ao lado do Mar.

Poesinha

Espere esta música acabar
Para que você possa
Ir embora

Não que eu tenha medo
De ficar sozinho em casa.
(eu sei que a sua viagem não demora)

Mas fique só um pouco mais!

... É que, na verdade,
Você me faz flauta.