Palavras Limpas

Porque a poesia pertence aos que precisam dela

27 janeiro 2007

Não Pise na Grama!

Para não cometeres o delito
Que te leva sempre ao mesmo drama,
Faze o que eu te digo:
Coloca primeiro a placa
E depois planta a grama

25 janeiro 2007

A todas as palavras do mundo
Eu desejo que encontrem
O poema perfeito

20 janeiro 2007

Eu sou o poeta

Sou eu
Quem invento o poema.

Eu sou o poeta.
Eu tenho as palavras
Nas minhas mãos.

E eu posso ter você
Na minha mão.
Eu posso mudar
A cor azul do céu.
Eu posso escreveu meu nome
Com as estrelas,
Eu posso fazer o mundo
Viver em paz...
Eu posso perpetuar a guerra!

Sou eu quem observa as flores
No cabelo da menina,
Sou eu quem conversa com o vento
E com o bêbado da esquina,
Eu vejo a vida
Passar
E passo
Vendo a vida
Sorrindo para mim.
Eu brinco com a morte,
Eu invento o amor
E finjo a solidão.

Eu sou o poeta
Eu tenho as palavras
Nas minhas mãos.

E eu juro
Que um dia
Eu vou escrever que você me ama!

18 janeiro 2007

O mestre José Saramago

Carta Anônima

Sei que tu gabas de mim
Com tua indiferença;
tu não tens meu telefone
tu queimaste minhas cartas
tu não cuidas mais do meu retrato

Sei que tu trocaste as cores
Sei que tu ignoras meus poemas
Mas
Sei que tu sabes quem sou eu,
Pois
Sei que tu ainda olhas para as estrelas.

17 janeiro 2007

Noite

Vejo carros passando
Vejo fumaças no ar
Vejo os espelhos da cidade grande
Refletindo a minha angústia

Vejo uma ilha de solidão
E as pessoas pra lá e pra cá
Correndo atrás do dinheiro:
A ponte que leva aos sonhos

E de noite eu sonho,
Espero que alguém venha me buscar
No meio dessa cidade grande

Vou até a janela
E concluo: todos dormem,
Estou só.

E começa o pesadelo outra vez.

15 janeiro 2007

Alba

Alba, no canteiro dos lírios estão caídas as pétalas de uma rosa cor de sangue
Que tristeza esta vida, minha amiga...
Lembras-te, quando vínhamos na tarde roxa e eles jaziam puros
E houve um grande amor no nosso coração pela morte distante?
Ontem, Alba, sofri porque vi subitamente a nódoa rubra entre a carne pálida ferida
Eu vinha passando calmo, Alba, tão longe da angústia, tão suavizado
Quando a visão daquela flor gloriosa matando a serenidade dos lírios entrou em mim
E eu senti correr em meu corpo palpirações desordenadas de luxúria.
Eu sofri, minha amiga, porque aquela rosa me trouxe a lembrança do teu sexo que eu não via
Sob a lívida pureza da tua pele aveludada e calma
Eu sofri porque de repente senti o vento e vi que estava nu e ardente
E porque era teu corpo dormindo que existia diante e meus olhos.
Como poderias me perdoar, minha amiga, se soubesses que me aproximei da flor como um [perdido
E a tive desfolhada entre minhas mãos nervosas e senti escorrer em mim o sêmem da minha [volúpia?
Ela está lá, Alba, sobre o canteiro dos lírios, desfeita e cor de sangue
Que destino nas coisas, minha amiga!
Lembras-te, quando era só lírios, altos e puros?
Hoje eles continuam misteriosamente vivendo, altos e trêmulos
Mas a pureza fugiu dos lírios como o último suspiro dos moribundos
Ficaram apenas as pétalas da rosa, vivas e rubras como tua lembrança
Ficou o vento que soprou nas minhas faces e a terra que eu segurei nas minhas mãos


(Vinícius de Moraes)

11 janeiro 2007

A flor que eu mais queria

Era lá pelo tempo de menino
Que de vez em quando dava de chover estrelas,
E chovia que chovia...
A gente morava na fazenda
E era só lá que isso acontecia.
Tinha que ver:
O pasto brilhando que nem o céu
E a gente ficava dentro de casa
Recolhendo num balde
As estrelas pititicas
Que vinham da goteira;
Mamãe ficava de perto
E não deixava ninguém se molhar
Porque andar no pasto era perigoso
Cobra é que não tinha
Mas as pontas das estrelas davam de cortar o pé.

Aí quando o sol abria
Lá ia eu e mais a molecada
Plantar na terra do cerrado
As estrelas da goteira.
Era uma festa na fazenda!
Cada semente de céu
Era plantada no quintal
Para daí um tempo depois
Brotar flor bonita
Pra gente dar pras namoradas.
Elas gostavam, e a gente ganhava beijo.

Acontece que
A flor que eu mais queria
Não tinha jeito de pegar.
É que de vez em quando dava de nascer,
No lugar da flor vermelha,
O retrato da Iaiá.
Mas esse mamãe não deixava a gente colher...
'Que retrato da Iaiá é coisa rara.

07 janeiro 2007

Tudo e Nada

Você fazia tudo por mim, tudo por mim. Até dizer "eu te amo" você dizia, e tudo isso era muito bonito entre nós. Era tudo diferente, para não dizer perfeito. Quando eu olhava para o porta-retrato sob meu criado-mudo, tudo me dizia que o seu "eu te amo" estava estampado ali: num pedaço de papel. Era uma fotografia do antes do "eu te amo", mas que dizia tudo. E sempre tudo.
Até que de repente a fotografia amarelou, e você se foi sem me dizer o porquê... acho que o seu amor valia apenas uma fotografia...

Agora tudo está chato e cheio de tristeza. Não fosse o seu "eu te amo", tudo estaria completamente normal; o problema é que você foi embora e agora eu fiquei com uma má impressão do que é o Amor.
Caso você ainda volte, vamos começar de um jeito diferente, vamos começar uma história de Não-Amor.

05 janeiro 2007

O Último Beijo

enquanto você engole
o amargo que restou
de minhas palavras,
eu recolho de você
as últimas gotas de meu sangue
e de minhas lágrimas

03 janeiro 2007

A iminência

Ele sempre mandou
minhas flores favoritas,

Ele sempre temperou
com azeite e sal

Ele sempre colocou
mais café do que leite

Ele sempre se calou
no momento certo

Ele sempre sorriu
quando eu não pedi

Ele sempre vestiu
do jeito que me deixa morrendo de ciúmes

Ele sempre fez
como eu queria

Ele sempre escolheu
o sapato certo para mim;

Ele sabe todas as minhas medidas
mesmo sem nunca ter me tocado:

Ele sempre
me amou.

Acho que eu vou me entregar...



**Para Ana