Palavras Limpas

Porque a poesia pertence aos que precisam dela

29 outubro 2006

Amorena

Colhi os teus pedaços
Espalhados pelo ar
Fiz de tudo um mosaico
Pra te ver de pouco em pouco

Se de verso em verso
É que se faz a poesia,
É te olhando devagar
Que eu te faço (sempre)
Mais bonita



**Para Nicole, a Morena de Água

26 outubro 2006

Atrás dos Olhos

Eu já não posso suportar
A lembrança que tenho
Daquele seu olhar

Você me cuidava de soslaio
Sem nem me notar

Eu já não posso suportar!
Quando passo por mim
Eu lembro
Daquele seu olhar

Você me fitava pelo espelho
E sorria devagar

Durante esses dias
Minhas memórias me guiam
Para onde jamais poderei
Remoçar

Passo por mim cabisbaixo
A passos trôpegos
Empurrado escada abaixo
Pelo seu olhar

Como eu vou suportar?
Eu não posso suportar

Quando eu me lembro
Não faço nada,
Tão somente
Recolho em minhas memórias
As duras marcas
Daquele seu olhar

Então sozinho,
Sem ninguém,
Só faço
Chorar.

20 outubro 2006

Recanto

Quando dou por mim
Envelheço
E passo a viver mais
Tudo o que não vivi

Nesta busca nunca sei
Por onde eu começo.
A vida é sempre o mesmo carrossel
De amar, esquecer,
Resignar
E prosseguir...



** Para a Thaísa

16 outubro 2006

Eu te amo, mas não se ofenda

O amor tem o nome de um palavrão
Desses que a gente fala
Em momentos de euforia
A gente simplesmente diz
Sem saber o que significa
O amor chega, às vezes,
A ofender

"Eu te amo"
Quem é que nunca quis ouvir isso?
Ou quem, nesta vida,
Já deixou de dizer
Apenas por não querer
Ficar vulnerável
Ou mesmo
Por não querer magoar
Quem, de fato,
Está sendo amado

O amor parece um perfume barato
Desses que a gente sempre usa
Por não ter outro no lugar;
O amor não passa de um acessório inútil
Que deixa alguns mais felizes
Com um sorriso bobo no rosto...
O amor cheira a naftalina!

A palavra "amor"
Se aproxima da palavra "fracasso"
Todo mundo, em algum momento,
Já disse: eu te amo
Ou: eu sou um fracasso!
Porém sem pensar
Sem ter noção do que é o fracasso
Ou mesmo,
Do que é o amor.
Todo mundo já disse
E se arrependeu depois.

Enfim
Amar é estar errando
No intuito apenas
De amar.
Mesmo que o amor
Seja uma coisa boa
Todo mundo tem medo
De ser amado

Eu já xinguei
Já usei muitos perfumes baratos
E sei que no fundo
Sou um fracasso...
Pois eu amo!
Mesmo não sabendo ainda
O que é esta palavra
Que não deixa dormir,
Que me faz à toa por aí,
Eu amo.

Mesmo não sabendo
O que é o amor
Eu continuo amando,
Vivendo,
Ofendendo quem não acredita
Que o amor é possível
Ou apenas
Real.

O amor é meramente impontual...

12 outubro 2006

Café da Manhã

Ele pôs o café na xícara.
Pôs leite
na xícara de café.
Pôs açúcar
no café com leite.
Mexeu com a colherinha
o seu café.
Bebeu o café com leite.
Deixou a xícara em paz,
sem dialogar.
Acendeu
um cigarro.
Fez com a fumaça
rodelinhas no ar.
Pôs as cinzas no cinzeiro
sem dialogar,
sem me encarar.
Ficou de pé.
Ajeitou
o chapéu na cabeça.
Sob a capa-de-chuva,
porque chovia,
ele foi embora
sem uma palavra,
sem sequer me olhar.
E eu, o que fiz?
A cabeça entre as mãos,
só fiz chorar.

(Jacques Prévert)


** Muito Bom. Não resisti e postei.

10 outubro 2006

Momento Futuro (o suicida)

No parapeito da janela
Vejo os edifícios me esmagando
Como um abraço

Aos meus pés
Transeuntes normais
Com os seus problemas
Sob dilemas banais

O barulho do trabalho
Incomoda o meu silêncio
Um minuto de pausa!
Apenas para hesitar...

No parapeito da janela
E lá embaixo
Aquela calçada velha
Que nunca sentiu a dor
De um salto comum,
De um impacto sem nenhum
Igual

Eu queria falar de amor
De coisas belas que, às vezes,
Até fazem mal -
Uma tarde no parque
Um dia de carnaval -
Alegria fugaz,
Contágio via oral

Eu queria sentir o perfume
Que todos dizem sentir
De uma flor que se abre
Ou de alguém
que nunca irá partir

Eu queria ver o retrato rasgado
De um grande amor do passado
Que até hoje
Insiste em ficar

Se eu pudesse
Eu telefonaria para um amigo de verdade
Fora de alcance
Em sofrimento conjunto
Numa outra cidade

Eu queria uma recordação
De um último beijo
Mesmo que tenha sido de despedida
Para nunca mais voltar,
Ou talvez um abraço forte
De quem um dia prometeu
Estar sempre junto de mim

Eu queria ser livre
Antes mesmo
Da queda livre

Livre,
Sem pudor para dizer
Tudo o que eu senti,
Tudo o que eu já quis fazer
Por amor
Ou por prazer

Eu queria agora
Apenas uma mão
Para me segurar...

Lá embaixo eu a vejo
Solidão, é hora de partir...

:

eu queria agora
Apenas falar de coisas belas
De coisas pequenas
De momentos que eu nunca
Vivi.

09 outubro 2006

A sombra do lúcido

Quer ser livre

E o lúcido

Quer ser livre

Vivendo nas sombras.

03 outubro 2006

Paradigmas

Deus criou o amor

E o homem inventou a poesia

Deus criou a solidão

E o homem inventou a saudade

Deus criou a mentira

E o homem inventou a verdade

Deus criou a preguiça

E o homem inventou o trabalho



Deus criou a solidão

E o homem inventou a verdade

Deus criou a mentira

E o homem inventou a poesia

Deus criou a preguiça

E o homem inventou a saudade

Deus criou o amor

E o homem inventou o trabalho



Deus criou a preguiça

E o homem inventou a verdade

Deus criou a mentira

E o homem inventou o trabalho

Deus criou a solidão

E o homem inventou a poesia

Deus criou o amor

E o homem inventou a saudade



Deus criou a mentira

E o homem inventou a saudade

Deus criou a preguiça

E o homem inventou a poesia

Deus criou a solidão

E o homem inventou o trabalho

Deus criou o amor

E o homem inventou a verdade



Deus
Deus criou
Deus criou o homem
Deus criou o homem inventou
Deus criou o homem inventou deus

02 outubro 2006

Um Mapa

(Clique na imagem para ampliar)


** Esse mapa é excelente! Copiei do Blog da Migh...

01 outubro 2006

Sembeijos

Beijos beijos beijos beijos beijos beijos...

Ainda que escrito cem vezes

Não traduz o beijo-sem-palavras.