Palavras Limpas

Porque a poesia pertence aos que precisam dela

10 outubro 2006

Momento Futuro (o suicida)

No parapeito da janela
Vejo os edifícios me esmagando
Como um abraço

Aos meus pés
Transeuntes normais
Com os seus problemas
Sob dilemas banais

O barulho do trabalho
Incomoda o meu silêncio
Um minuto de pausa!
Apenas para hesitar...

No parapeito da janela
E lá embaixo
Aquela calçada velha
Que nunca sentiu a dor
De um salto comum,
De um impacto sem nenhum
Igual

Eu queria falar de amor
De coisas belas que, às vezes,
Até fazem mal -
Uma tarde no parque
Um dia de carnaval -
Alegria fugaz,
Contágio via oral

Eu queria sentir o perfume
Que todos dizem sentir
De uma flor que se abre
Ou de alguém
que nunca irá partir

Eu queria ver o retrato rasgado
De um grande amor do passado
Que até hoje
Insiste em ficar

Se eu pudesse
Eu telefonaria para um amigo de verdade
Fora de alcance
Em sofrimento conjunto
Numa outra cidade

Eu queria uma recordação
De um último beijo
Mesmo que tenha sido de despedida
Para nunca mais voltar,
Ou talvez um abraço forte
De quem um dia prometeu
Estar sempre junto de mim

Eu queria ser livre
Antes mesmo
Da queda livre

Livre,
Sem pudor para dizer
Tudo o que eu senti,
Tudo o que eu já quis fazer
Por amor
Ou por prazer

Eu queria agora
Apenas uma mão
Para me segurar...

Lá embaixo eu a vejo
Solidão, é hora de partir...

:

eu queria agora
Apenas falar de coisas belas
De coisas pequenas
De momentos que eu nunca
Vivi.