Palavras Limpas

Porque a poesia pertence aos que precisam dela

12 outubro 2006

Café da Manhã

Ele pôs o café na xícara.
Pôs leite
na xícara de café.
Pôs açúcar
no café com leite.
Mexeu com a colherinha
o seu café.
Bebeu o café com leite.
Deixou a xícara em paz,
sem dialogar.
Acendeu
um cigarro.
Fez com a fumaça
rodelinhas no ar.
Pôs as cinzas no cinzeiro
sem dialogar,
sem me encarar.
Ficou de pé.
Ajeitou
o chapéu na cabeça.
Sob a capa-de-chuva,
porque chovia,
ele foi embora
sem uma palavra,
sem sequer me olhar.
E eu, o que fiz?
A cabeça entre as mãos,
só fiz chorar.

(Jacques Prévert)


** Muito Bom. Não resisti e postei.