Palavras Limpas

Porque a poesia pertence aos que precisam dela

18 abril 2007

carta não-mandada n°1

hoje eu sonhei com você, Ana.
e você, Querida, que entende de sonhos
sabe que na noite passada ninguém me ligou
e eu vaguei pela cidade
em busca de um amor igual ao seu.
eu não preciso dizer que voltei somente com o troco no bolso
e ainda, e mais, sem a esperança de antes:
de quando a juventude fez de nós
amantes.
sonhei com você, minha Ana
e só de dizer isso
você sabe o quanto os dias têm me levado;
e eu grito, e eu choro, e eu sonho,
e você não me ouve.
você insiste em se esconder
e aparece somente quando estou fraco,
quando estou trôpego, quando estou vil,
quando estou de olhos fechados.
eu sei que é somente assim
que você se mantém viva
porém eu lhe peço: vá embora!
porque enquanto você vive
eu morro.
pode levar com você o meu coração
as minhas vísceras, a minha razão
o meu poema...
leve tudo,
'que este velho amor já se apodreceu em meu peito,
e agora não é nada mais do que um verme
a consumir meu cadáver
enquanto eu durmo o sono
das infinitas noites enfermas.